A política é uma arte moldada pelo tempo, que pode apagar ou destacar as ações de um governante conforme a história reinterpreta o passado.
A política, diferentemente da matemática, não se pauta por exatidão. Enquanto a ciência dos números segue leis imutáveis, a arte de governar é moldada pelas circunstâncias, pelas relações de poder e, acima de tudo, pelo tempo. A história, neste cenário, age como uma espécie de "borracha política", capaz de apagar ou destacar as ações e os feitos de um governante, conforme a memória coletiva vai se adaptando ao passar dos anos.
Desde Aristóteles, que no século V a.C. escreveu sua obra “Política”, a definição de política tem evoluído, mas sem perder sua essência como a arte ou ciência de governar. Na contemporaneidade, no entanto, a política tornou-se também a arte de negociar, um jogo complexo onde interesses públicos e privados se entrelaçam, muitas vezes distorcendo o que seria uma administração ideal.
Quando uma pessoa é eleita ou nomeada para um cargo público, ela recebe um "quadro negro" metafórico, no qual escreverá sua história através de suas ações. Essas ações, por sua vez, ficam registradas na memória do tempo. Algumas vezes, essas marcas são apagadas pelo próprio tempo ou reinterpretadas conforme mudam os valores e as percepções da sociedade. É a chamada "borracha política", que tanto pode obscurecer realizações importantes quanto ressaltar falhas esquecidas.
A administração pública, seja no âmbito federal, estadual ou municipal, exige um equilíbrio delicado entre a técnica e a política. Governantes precisam de um primeiro escalão composto por políticos habilidosos, mas igualmente devem cercar-se de técnicos competentes que entendam a complexidade de suas áreas. Essa combinação é essencial para uma gestão eficiente e equilibrada.
No entanto, a prática nos mostra que nem sempre esse equilíbrio é alcançado. Alguns governantes optam por uma gestão rígida nos primeiros anos de mandato para depois relaxar, visando a reeleição ou a manutenção de poder para um aliado. Outros, mais preocupados em assegurar ganhos pessoais, adotam estratégias que podem ir desde a prevaricação até o uso de "laranjas" para acumular bens de forma dissimulada. Há ainda aqueles que, mesmo honestos, falham ao favorecer uns em detrimento de outros, cometendo incoerências que podem manchar seu legado.
Esses são os males da política que o tempo conta. O tempo não apenas revela as verdadeiras intenções e os erros de um governante, mas também pode apagar o que parecia grandioso em um primeiro momento, conforme novas gerações reavaliam o passado. A "borracha política" não é apenas uma metáfora para o esquecimento, mas um lembrete de que a história é escrita e reescrita conforme novas luzes são lançadas sobre o que um dia foi.
Ao final, fica a reflexão: o que permanecerá escrito no quadro negro do tempo sobre os atuais governantes? E até que ponto essa escrita será fiel aos fatos ou uma construção do que a memória coletiva decidir preservar? A resposta está nas mãos do tempo e, talvez, naquelas que seguram o giz da história.
Por José Carlos de Almeida - Jornalista