Tocantins, 29 de April de 2024 - Mira Jornal - 00:00

Policia

Mulheres contam o que passaram dentro de consultório de ginecologista preso suspeito de abusar de pacientes

25/02/2024 12h17

Foto: Divulgação TV Anhanguera ouve com exclusividade vítimas de ginecologista preso no Tocantins
Médico está preso desde julho de 2023 e responde por suspeita de abusar de 11 mulheres em consultório particular e até no serviço público.

Toques indevidos, dúvidas e medo do que poderia acontecer. Diversas vítimas tiveram suas fragilidades expostas no consultório do médico ginecologista Paulo Rodrigues do Amaral, que é acusado de abusar sexualmente de pacientes em Palmas. Uma delas se sentiu violada e denunciou o caso à polícia, e isso levou o médico a ser preso.

A paciente de apenas 22 anos estava grávida do primeiro filho e com quatro meses de gestação. No dia 9 de fevereiro de 2023 ela se consultou com Paulo. Logo percebeu que os toques não eram 'normais' para uma consulta ginecológica.

"Ele enfiava o aparelhozinho e triscava a mão em minhas partes. Toda hora triscava. E eu não conseguia falar nada, só falava, tá doendo, tá doendo. Aí chegou uma hora que eu não dei conta de falar mais nada, eu só olhei pra cima e fiquei quieta, e deixei", disse a jovem, sobre o dia do abuso, afirmando ainda que sentiu medo dele fazer algo mais grave.

A jovem registrou um boletim de ocorrência e 14 dias depois, o médico foi preso. O caso não era o único, já que Paulo respondia por outras três ações judiciais referentes a crimes semelhantes ao abuso contra a paciente.

Grávida que denunciou médico ginecologista por abuso conta momentos de dor durante exame: ‘Não conseguia falar’
Soltura e nova prisão

No mês seguinte, em 10 de março, Paulo foi solto por decisão judicial. Mas ficou proibido de exercer a profissão. Mesmo assim, mais pacientes registraram boletins de ocorrência alegando violações por parte do médico em consultas.

No dia 21 de julho, ele voltou para a prisão, onde está desde então. Apesar de diversos pedidos de liberdade feitos pela defesa, a Justiça negou todos.

Com a repercussão da prisão e o motivo, outras vítimas, que teriam sofrido abusos há anos atrás também o reconheceram e passaram a denunciar. O médico atuou como ginecologista no Tocantins por 30 anos e a TV Anhanguera conseguiu apurar que nesse tempo, pelo menos 30 mulheres sofreram abusos.

Relatos
Os abusos teriam acontecido em clínicas, hospitais e postos de saúde que o médico atuou na capital. Confira:

No parto

Vítimas contaram à TV Anhanguera o que passaram nas mãos dele. Uma delas tinha apenas 14 anos e uma gravidez precoce. Os toques desnecessários foram na hora do parto.

"Eu cheguei no pré-parto e depois já fui direto para sala de parto que já foi bem, bem rápido. Aí quando a enfermeira chegou, ela chegou de touca e ficou de costa pra mim empurrando minha barriga. Quando ela empurrava minha barriga, ele massageava meu clitóris, falava que e eu me esfregava em homem por isso que eu tava ali, e ela sorrindo muito", relembrou.

Além de tocar as partes íntimas da jovem, o médico ainda teria a feito com que o pé dela tocasse o pênis dele.

"Aí ele falou, o prazer que você não teve para poder ter engravidado do seu filho você vai ter agora, e massageando meu clítoris, e colocando meu pé no pênis dele. Aí, isso foi assim, o parto inteiro, não tive um minuto de paz no meu parto, foi o parto inteiro, ele massageando, falando, colocando o pé e soltando muita piadinha pornográfica", afirmou.
Como era jovem, a paciente não conseguiu dimensionar a gravidade da atitude do médico. "Hoje eu vejo com toda clareza isso. No tempo eu ficava confusa o que é que o que tinha acontecido, hoje em dia eu sei tudo que aconteceu", contou.

Durante exame

Outra paciente também relata toques indevidos, que aconteceram em 2018.

"O primeiro ginecologista que me atendeu foi super profissional, fez o toque, viu que tava tendo sangramento e me deixou de observação. No dia 12/04/2018, a partir das 8 da manhã, o Paulo Amaral assumiu o plantão. Deu o primeiro toque ne mim, vaginal, viu que tava tendo sangramento. Me pediu uma ultrassom transvaginal, e aí ele pediu pra entrar sozinha. Ele começou a passar a mão nas minhas nas minhas pernas, do lado, em cima da minha barriga, entre a minha virilha e acabando com a ultrassom, fez de novo o toque. Com malícia, sem profissionalismo.

A paciente precisou ficar internada e no dia seguinte comentou com uma enfermeira a estranheza no atendimento. A resposta foi chocante:

"Dia 13, por volta das 9 da manhã, recebi alta, e aí comentei com a enfermeira que eu achava super estranho aquilo lá, que não tava normal. Aí ela falou que eu era mais uma vítima dele. Tava vulnerável né, tava ali sem acolhimento onde deveria tá acolhida, né. Principalmente por ele, um profissional da saúde", lamentou.


Mais mulheres denunciaram os crime — Foto: Reprodução TV Anhanguera
Mais mulheres denunciaram os crime — Foto: Reprodução TV Anhanguera

Ela levou o caso para a Justiça. Mesmo assim, passados quase seis anos, ela ainda faz tratamento psicológico para minimizar o trauma.

"E assim, hoje, o que eu sinto? Trauma. Trauma de ter filhos. Não penso em ter filhos. Trauma de fazer consulta com médico, ficar só com médico. É uma cicatriz, né? Que cabe ou não a gente fechar, mas qualquer momento abre", afirmou.
 Confiança destruída

O impacto do trauma que teve no parto do filho também faz parte da história desta outra paciente, que relatou o que aconteceu no dia do abuso.

"Ele não fez toque, ele ficou com o dedo lá, colocando e tirando, colocando e tirando. Eu achei estranho né, e como ele fala pra mim que estava me ajudando, que era pro neném nascer mais rápido, eu acreditei. Eu só percebi que não era quando ele pegou a minha perna e colocou encima do pênis dele, duro. Aí eu fiquei muito, muito nervosa, mas eu não tive reação assim porque eu tinha medo dele fazer alguma coisa comigo, com meu filho, porque só tinha eu e ele lá, não tinha enfermeira, não tinha ninguém", relembrou.

A paciente relatou que confiou no profissionalismo e acreditou que ele cuidaria dela. "No momento de fragilidade que eu tava né, ele fez isso comigo né. Eu confiei nele, né. Eu confiei que ele tava lá pra cuidar de mim, do meu filho que tava vindo. Que era pra ser o momento mais feliz na minha vida, que se tornou um trauma muito grande".

Sem luvas

A servidora pública Bárbara Kelly Alcântara Sampaio foi atendida por Paulo Amaral em um posto de saúde de Palmas. Ela conta que ele tentou atendê-la sem usar luvas.

"Ele falou que tinha que me avaliar, que não tinha dado nada no exame, mas que tinha que me avaliar. Perguntou se eu tinha corrimento, eu falei que não. Pediu pra eu deitar, eu deitei na maca. Disse que não tinha luva e pergunta se poderia me atender sem luva, eu disse que não. Ele volta com uma mão com uma luva e a outra sem. E começa a fazer comentário sobre meu corpo, fala que não tem nada e cheira os dedos. Eu saio constrangida" explicou.

Ela denunciou o caso na unidade de saúde, mas nunca recebeu respostas. Por isso, acredita que outras pessoas podem ter passado pelo mesmo constrangimento porque não foi ouvida.

Abraço forçado

A advogada Yonnara Freitas Lima que também foi paciente de Paulo contou que para fazer uma exame de papanicolau sofreu muito e que ele até tentou a abraçar. Ela era menor de idade quando o caso aconteceu.

"Eu sentia muita dor, eu chorava muito, muito, muito. Achava que era uma coisa assim que doía mesmo, que era normal doer, por conta que era um tratamento, mas o que me assustava mais era que ele me pedia para ir para o banheiro para jogar água, e nesse momento ele tirava a luva e me apalpava, e isso foi em torno de umas três consultas que eu fiquei assim", disse.

Ela foi consultada por três vezes até tomar consciência de que a situação não era normal. "Na primeira eu assim, me assustei, na segunda eu achei que o rumo que foi tomando foi um pouco invasor, me invadiu, invasivo na verdade, e a terceira foi o ápice, que foi quando tudo isso aconteceu, eu ainda estava no banheiro, assim, eu contando assim, não tem detalhes, não tem riqueza de detalhes, mas o momento foi muito constrangedor, porque ele tentou me abraçar. E aí foi quando eu senti o órgão dele duro, né? E aí nesse momento eu falei, não, isso aqui não tá certo, não é normal isso aqui".

Além dos toques indevidos, perguntas constrangedoras também teriam feito parte das consultas. "Ele me perguntava se eu gostava de fazer sexo, se eu sentia prazer na minha relação sexual com meu namorado, quais pontos que mais eu gostava. Perguntas estranhas né, isso me incomodou. Olhar pra trás assim e ver que isso aconteceu é muito estranho", afirmou.

Processos e defesa
O Ministério Público do estado (MPTO) denunciou Paulo Amaral por abusos contra 11 vítimas. O processo que o mantém preso está na fase final.

Em 2023, a defesa do médico chegou a pedir uma investigação sobre o estado mental do ginecologista, que foi negado pela Justiça. A justificativa é que ele não estaria com doença mental na época dos crimes. A defesa recorreu.


A TV Anhanguera pediu uma entrevista com os advogados do médico. Mas foi enviada uma nota em que afirmam que o processo está em segredo de Justiça, portanto não estão autorizados a comentar o caso.

Entretanto, reafirmam que o médico é inocente e que é "um profissional de medicina há mais de 30 anos, com um legado significativo na cidade e no estado. Sua trajetória é marcada pela ética, dedicação e um compromisso incansável com o bem-estar de seus pacientes. E que acreditam firmemente que as acusações feitas contra ele são injustas e que confiam plenamente no sistema Judiciário para esclarecer a verdade".

Sobre o caso de Bárbara Kelly, a Secretaria Municipal de Saúde afirmou que tem colaborado com todas as informações junto às autoridades competentes e que neste caso, o médico foi suspenso por 90 dias depois de um procedimento administrativo disciplinar, em 2017.

O Conselho Regional de Medicina (CRM) informou em nota que os fatos já são de conhecimento do CRM e qu eos procedimentos instaurados tramitam em sigilo processual. Também afirmou que o médico já foi penalizado publicamente em processos éticos dentro do CRM.

Veja nota da defesa na íntegra:

Em resposta às recentes solicitações de informações sobre o caso do Dr. Paulo Rodrigues do Amaral, gostaríamos de esclarecer que, devido ao processo tramitar em segredo de justiça, e por respeito ao judiciário, bem como às supostas vítimas, não estamos autorizados a comentar detalhes do processo em curso.

Entretanto, aproveitamos esta oportunidade para reafirmar a inocência de nosso cliente. O Dr. Paulo Rodrigues do Amaral é um profissional da medicina há mais de 30 anos, com um legado significativo na cidade e no estado do Tocantins. Sua trajetória é marcada pela ética, dedicação e um compromisso incansável com o bem-estar de seus pacientes. Acreditamos firmemente que as acusações feitas contra ele são injustas e confiamos plenamente no sistema judiciário para esclarecer a verdade.

O respeito ao processo legal e aos procedimentos judiciais é primordial para nós. Portanto, embora não possamos participar de uma entrevista neste momento, devido às restrições legais e éticas, estamos comprometidos em cooperar plenamente com as autoridades competentes.

Confiamos que, ao final deste processo, a justiça prevalecerá e o Dr. Paulo Rodrigues do Amaral será exonerado de todas as acusações infundadas. Até lá, pedimos à mídia e ao público que respeitem a privacidade e a presunção de inocência de todas as partes envolvidas.

Agradecemos a compreensão e estamos à disposição para esclarecimentos futuros, dentro dos limites permitidos pela lei.

Ana Paula Rehbein, Patricia Lauris, TV Anhanguera e g1 Tocantins

   

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