8 em cada 10 homens mortos por arma de fogo são negros, revela estudo do Instituto Sou da Paz
20/11/2024 08h51
Nordeste segue tendo a pior taxa de de homicídios masculinos com arma de fogo, segundo estudo que analisou impacto da violência armada na desigualdade racial
Homens negros são desproporcionalmente impactados pela violência armada: além da alta mortalidade por arma de fogo, eles representam 68% dos atendidos no sistema de saúde em razão de algum tipo de agressão armada.
Os homens jovens (20-29 anos) e os adolescentes (15-19 anos) são os que sofrem as mais altas taxas de homicídio por arma de fogo, as taxas são quase 2 e 3 vezes superiores à taxa média de homicídios masculinos, respectivamente. Os dados são da recém-lançada pesquisa “Violência Armada e Racismo: o papel da arma de fogo na desigualdade racial”, do Instituto Sou da Paz. A terceira edição do relatório chama atenção para o fato da violência armada ser um problema também de causas raciais e de gênero e, por isso, apontada para a necessidade de integrar políticas de segurança pública e políticas sociais para a solução do problema.
A pesquisa traça um panorama do impacto da violência armada na vida dos homens brasileiros e utiliza como banco de dados as informações do Ministério da Saúde, por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), consolidados para o ano de 2022.
A análise revelou que as armas de fogo foram as responsáveis por quase 38 mil mortes anuais de homens no Brasil entre 2012 e 2022. Esse número indica que para cada três homens assassinados no Brasil, dois são mortos por armas de fogo. É justamente na fase produtiva dos homens em que cresce a chances de mortes, já que 43% das mortes ocorrem na faixa de 20 a 29 anos; e 40%, entre 30 e 59 anos. Porém a pesquisa chama a atenção para o sistema de desigualdade racial que também recai sobre as vítimas da violência armada. Homens negros são 79% das vítimas, sendo três vezes mais propensos a serem mortos por armas de fogo do que homens não negros.
“A desigualdade racial está no cerne da mortalidade por arma de fogo no país”, afirma Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz. “A violência armada que atinge sobretudo os homens negros é uma realidade que permanece ao longo do tempo e reflete as vulnerabilidades estruturais que afetam a população negra”, reflete Carolina.
O Nordeste continua sendo a região que concentra a maior taxa de homicídios armados, com 57,9 mortes por 100 mil homens. A região é seguida pelo Norte, que tem uma participação proporcional baixa, mas uma taxa alta de 49,1. O Centro-Oeste (27,0) vem atrás, seguido do Sul (23,2) e do Sudeste (16,1).
Idade e local da morte
A faixa etária de 20 a 29 anos é a que apresenta a maior taxa de homicídios em termos relativos, é possível observar nela uma concentração de homicídios masculinos de 89,3 mortes por 100 mil homens. Já crianças e adolescentes, de 10 a 19 anos, e homens de meia-idade, entre 30 e 59 anos, enfrentam riscos consideráveis e em níveis similares: ambos têm a taxa de 30,4 mortes por 100 mil homens. São as crianças menores e os idosos que possuem as taxas mais baixas. Enquanto o grupo de homens com 60 anos ou mais tem uma taxa de 5,1 por mil, crianças de 0 a 9 anos possuem a taxa 0,2.
A idade das vítimas tem um peso importante quando se observa os locais onde a agressão armada ocorre. As vias públicas concentram 50% das ocorrências dos homicídios, mas esse dado se altera conforme a faixa etária. Essa característica reforça a ideia de que a violência armada no Brasil é altamente visível, gerando impactos diretamente na sensação de segurança coletiva. A rua é o espaço onde ocorre a violência a partir da adolescência, passando pela juventude e vida adulta, na medida que a residência se destaca como local da agressão armada contra crianças e pessoas mais velhas.
Os impactos da violência não letal
No ano de 2022, foram registradas 4.702 notificações de violência armada não letal contra homens no Brasil. A desigualdade racial também é notada nos dados de violência armada não letal contra homens, já que os homens negros são a maioria das vítimas em quatro das cinco regiões do país. No Norte e Nordeste, representam mais de 80% das vítimas, enquanto na região Sul, enquanto os não negros são 65%. Porém, a análise dos números em termos relativos revela que todas as regiões apresentam taxas de notificação de violência armada não letal superiores para os homens negros.
Autoria
As informações disponíveis sobre a autoria da agressão armada indicam que a maior parte das pessoas que cometem a agressão é desconhecida, o que representa 46% dos casos. Já as pessoas conhecidas são 17% e 7% são policiais. A idade das vítimas também altera o perfil dos agressores. Os autores conhecidos têm uma maior participação nos casos de violência armada contra crianças, eles representam 32% dos algozes. Já entre os adolescentes e adultos jovens, os policiais respondem por 9% das agressões.
Analisar esse cenário colabora para que soluções sejam elaboradas e executadas. “É preciso compreender os diferentes cenários regionais e implementar políticas públicas capazes de atuar sobre diversos fatores de risco, estruturais e conjunturais, que sujeitam a população negra à violência armada”, diz Carolina Ricardo.
Ascom / Instituto Sou da Paz
Homens negros são desproporcionalmente impactados pela violência armada: além da alta mortalidade por arma de fogo, eles representam 68% dos atendidos no sistema de saúde em razão de algum tipo de agressão armada.
Os homens jovens (20-29 anos) e os adolescentes (15-19 anos) são os que sofrem as mais altas taxas de homicídio por arma de fogo, as taxas são quase 2 e 3 vezes superiores à taxa média de homicídios masculinos, respectivamente. Os dados são da recém-lançada pesquisa “Violência Armada e Racismo: o papel da arma de fogo na desigualdade racial”, do Instituto Sou da Paz. A terceira edição do relatório chama atenção para o fato da violência armada ser um problema também de causas raciais e de gênero e, por isso, apontada para a necessidade de integrar políticas de segurança pública e políticas sociais para a solução do problema.
A pesquisa traça um panorama do impacto da violência armada na vida dos homens brasileiros e utiliza como banco de dados as informações do Ministério da Saúde, por meio do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), consolidados para o ano de 2022.
A análise revelou que as armas de fogo foram as responsáveis por quase 38 mil mortes anuais de homens no Brasil entre 2012 e 2022. Esse número indica que para cada três homens assassinados no Brasil, dois são mortos por armas de fogo. É justamente na fase produtiva dos homens em que cresce a chances de mortes, já que 43% das mortes ocorrem na faixa de 20 a 29 anos; e 40%, entre 30 e 59 anos. Porém a pesquisa chama a atenção para o sistema de desigualdade racial que também recai sobre as vítimas da violência armada. Homens negros são 79% das vítimas, sendo três vezes mais propensos a serem mortos por armas de fogo do que homens não negros.
“A desigualdade racial está no cerne da mortalidade por arma de fogo no país”, afirma Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz. “A violência armada que atinge sobretudo os homens negros é uma realidade que permanece ao longo do tempo e reflete as vulnerabilidades estruturais que afetam a população negra”, reflete Carolina.
O Nordeste continua sendo a região que concentra a maior taxa de homicídios armados, com 57,9 mortes por 100 mil homens. A região é seguida pelo Norte, que tem uma participação proporcional baixa, mas uma taxa alta de 49,1. O Centro-Oeste (27,0) vem atrás, seguido do Sul (23,2) e do Sudeste (16,1).
Idade e local da morte
A faixa etária de 20 a 29 anos é a que apresenta a maior taxa de homicídios em termos relativos, é possível observar nela uma concentração de homicídios masculinos de 89,3 mortes por 100 mil homens. Já crianças e adolescentes, de 10 a 19 anos, e homens de meia-idade, entre 30 e 59 anos, enfrentam riscos consideráveis e em níveis similares: ambos têm a taxa de 30,4 mortes por 100 mil homens. São as crianças menores e os idosos que possuem as taxas mais baixas. Enquanto o grupo de homens com 60 anos ou mais tem uma taxa de 5,1 por mil, crianças de 0 a 9 anos possuem a taxa 0,2.
A idade das vítimas tem um peso importante quando se observa os locais onde a agressão armada ocorre. As vias públicas concentram 50% das ocorrências dos homicídios, mas esse dado se altera conforme a faixa etária. Essa característica reforça a ideia de que a violência armada no Brasil é altamente visível, gerando impactos diretamente na sensação de segurança coletiva. A rua é o espaço onde ocorre a violência a partir da adolescência, passando pela juventude e vida adulta, na medida que a residência se destaca como local da agressão armada contra crianças e pessoas mais velhas.
Os impactos da violência não letal
No ano de 2022, foram registradas 4.702 notificações de violência armada não letal contra homens no Brasil. A desigualdade racial também é notada nos dados de violência armada não letal contra homens, já que os homens negros são a maioria das vítimas em quatro das cinco regiões do país. No Norte e Nordeste, representam mais de 80% das vítimas, enquanto na região Sul, enquanto os não negros são 65%. Porém, a análise dos números em termos relativos revela que todas as regiões apresentam taxas de notificação de violência armada não letal superiores para os homens negros.
Autoria
As informações disponíveis sobre a autoria da agressão armada indicam que a maior parte das pessoas que cometem a agressão é desconhecida, o que representa 46% dos casos. Já as pessoas conhecidas são 17% e 7% são policiais. A idade das vítimas também altera o perfil dos agressores. Os autores conhecidos têm uma maior participação nos casos de violência armada contra crianças, eles representam 32% dos algozes. Já entre os adolescentes e adultos jovens, os policiais respondem por 9% das agressões.
Analisar esse cenário colabora para que soluções sejam elaboradas e executadas. “É preciso compreender os diferentes cenários regionais e implementar políticas públicas capazes de atuar sobre diversos fatores de risco, estruturais e conjunturais, que sujeitam a população negra à violência armada”, diz Carolina Ricardo.
Ascom / Instituto Sou da Paz
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