O homem que fez nascer e curou vidas, se despede de sua terra prometida
13/07/2021 21h07
O homem que fez nascer e curou vidas, se despede de sua terra prometida
_____ CONHEÇA A HISTÓRIA DO MÉDICO QUE AMAVA MIRACEMA ____
Num triste sábado à noite, de 10 de julho deste 2021, vencido no combate contra um infarto iniciado no dia anterior, o médico clínico e obstetra Francisco Francimar Gonçalves Ferreira, foi abraçado pela morte aos 81 anos, deixando viúva Edivan Parente Aguiar, com quem foi casado por 45 anos e teve três filhos.
Entre um final de tarde e inicio de noite de um indesejado domingo (11), seu corpo baixou sepultura em sua 'terra prometida', quando chegou em 1973, após nascer no Ceará, se formar em Medicina em Pernambuco, passando por Goiânia até se render à Miracema onde se fixou desde a então do Norte até do Tocantins.
Tamanha perda que se entende, mas difícil de compreender, nos remete a uma partida fora de tempo, antecipada, suprimindo feitos, pois o abençoado médico tinha muito a fazer em sua existência, mesmo após uma aposentadoria vencida que esperou 14 anos para aceitar e requerer.
Numa entrevista que fiz com ele há 30 anos (1991) pela então Rádio Anhanguera AM, quando ressaltou sua religiosidade e destacou o bispo da época Dom Jaime Collins (1921/2002), que entrevistei na semana anterior, ele já decantava a cidade de Miracema como sua ‘terra prometida’.
Numa cerimônia da ACIAM realizada na AABB em 2018, Dr. Francimar recebe homenagem do odontólogo Dianarú Barros
HISTÓRIA
Francisco Francimar Gonçalves Ferreira, nasceu dia 3 de março de 1940 no sítio Tabuleiro de Dentro, em Umari, interior do Ceará. Seus pais, Alexandre Gonçalves de Araújo e Maria ferreira Lima, pequenos pecuaristas que sobreviviam da produção de leite e fabricação de queijos, ávidos devotos de São Francisco de Assis, tiveram ainda outro filho batizado de Francisco de Assis Gonçalves Ferreira.
Em 1950, ainda com 10 anos de idade, o jovem Francimar saiu de casa para iniciar seus estudos em Ipaumirim/CE. Naquela época foi cuidado por uma prima, mãe de sua professora Zenira Gonçalves, que a chamava de sua segunda mãe.
Terminando o estudo primário foi para a cidade de Cajazeiras/PB, onde fez exame de admissão ao Colégio Interno dos Padres Salesianos, obtendo excelente classificação. Quando completou 18 anos, justificado pelo excelente nível de escolaridade e comportamental, obteve a condição de aluno externo, para servir o Exército Brasileiro (1958).
Após o serviço militar e conclusão do curso Ginasial, Francimar voltou pra sua terra natal, onde na capital Fortaleza, ingressou no curso Científico. Época que morou sozinho, num precário hotel distante dos pais e do irmão. Mais tarde conseguiu vaga na Casa dos Estudantes, quando trabalhava em serviços diversos para manter alimentação e pagar taxa da casa de apoio.
Pronto para ingressar numa faculdade, Francimar mantinha acesa a chama, cada vez mais viva, de ser um médico, inspiração vinda de seu tio, Dr. Alexandre. Comprando livros em ‘sebos’ da região e por dois anos participando do curso pré-vestibular, finalmente conseguiu passar e ingressar na Faculdade de Medicina de Ciências Medicas em Recife/PE.
Enfim chegou o dia da formatura, quando com a presença dos pais, recebeu o chamado diploma superior, com certificação de habilitação para exercer a medicina.
Em busca da primeira colocação como profissional de medicina, encontrou dificuldades naquela capital pernambucana, percebendo igual situação em sua terra natal (Ceará), então decidiu tentar o estado de Goiás, onde havia oportunidades de trabalho nas cidades do interior.
Passou quatro meses em Goiânia/GO aguardando contratação, quando surgiu vaga num posto de Saúde em Xambioá, mas devido à consciência de estar preparado para exercer medicina num hospital, devido à complexidade exigida, e ainda naquela época a Guerrilha do Araguaia era um fator marcante na história daquela cidade, preferiu aguardar até que um dia a cidade que chamava de ‘terra prometida’ surgiu em sua vida: Miracema, então do Norte do Goiás.
Para conquistar a vaga surgida naquela cidade, que 15 anos depois seria consagrada capital provisória de um novo estado, teria que passar por 22 dias de avaliação em Porto Nacional, considerada cidade referencia em medicina no norte goiano.
Enfim, dia 23 de junho de 1973 o já Doutor Francisco Francimar abraçou a sorte, um lugar que viveu por 48 anos, até ser abraçado pela morte.
Esse momento histórico aconteceu exatamente embaixo do Cruzeiro cravado no alto da margem esquerda do rio Tocantins - hoje Ponto de Apoio - onde atracou numa modesta embarcação, recepcionado por Dr. Quincas (Joaquim Sardinha Neto) e Quirino de Sousa Ribeiro (seu amigo irmão camarada), pisou no chão de sua terra prometida.
Dr. Francimar foi acolhido no Hospital da OSEGO (Organização de Saúde do Estado de Goiás) - como era conhecida a Unidade Mista de Saúde de Miracema do Norte - pelos colegas médicos Dr. Ailton Romero, Dr. Franklim Amorim e funcionários daquela instituição, onde trabalhou e residiu no primeiro ano de moradia em Miracema – época que fazia as refeições no restaurante do Zezito - até adquirir sua própria casa onde morou até seus últimos dias de vida.
“Foi a realização de meu grande sonho, trabalhar num hospital, cuidando e curando gente”, dizia Dr. Francimar que substituiu a obstetra Dra. Elizabeth Kipman Cerqueira, dando continuidade e consolidou o projeto da Maternidade Mãe Domingas, fundada em 3 de abril de 1972, cujo nome popular homenageia a parteira Domingas Martins da Silva, que realizou mais de cinco mil partos.
Na maternidade denominada tecnicamente por CAMI-MN (Centro de Assistência Maternidade e Infância de Miracema do Norte), até o descredenciamento feito pelo SUS em 1999, foram contabilizados exatos 11.503 partos, nesse período cerca de cinco mil deles foram feitos por Dr. Francimar, onde trabalhou por 13 anos.
Nos 48 anos, desde que pisou em sua 'terra prometida', além do Hospital da OSEGO e da Maternidade Mãe Domingas, Dr. Francimar trabalhou por anos e dirigiu por várias vezes o Hospital de Referencia de Miracema.
Por inúmeras vezes foi convidado a trabalhar em outras cidades e até estados, mas sempre preferiu ficar junto aos seus, na sua ‘terra prometida’, inclusive na época da enchente de 1980, quando centenas de casas foram destruídas - inclusive a sua - preferiu continuar cuidando de sua gente e chegou a morar um tempo na Fazenda Sucupira, herdada por sua esposa Edivan Parente.
Com a noticia de sua partida, choros e lágrimas demonstraram o tamanho da perda nos rostos da maioria dos miracemenses.
Dr. Francisco Francimar e sua esposa Edivan Parente.
HONRARIAS
Entre os lamentos, foram lembradas suas ações, além do bem cuidar, da competência e do amor ao próximo, seus marcos como:
Fundador da Maternidade Mãe Domingas;
Fundador e Tesoureiro da 1ª Diretoria do CRM (Conselho Regional de Medicina) do Tocantins;
Diretor do Hospital de Referencia de Miracema;
Sócio Benemérito da APAE Miracema;
Diretor do Sindicato Rural de Miracema do Tocantins;
Sócio da Cooperativa Vale do Tocantins.
Dr. Francimar ainda foi outorgado com:
Atestado de Pioneiro do Tocantins (Casa Civil 08/11/1990;
Título Honorífico de Cidadão Miracemense (1994/Ver. Zacarias Jardim e 2003/Ver. Paulo Moraes);
Troféu Imprensa (1997/MIRA Jornal);
Comenda Mérito de Trabalhador (2001-2004/Rainel Barbosa).
LEGADO
O legado principal construído por Dr. Francimar, conforme dizia, foi a família: sua esposa Edivan Parente de Aguiar Ferreira, filha de Propício Costa Aguiar (Parrião) e Elza Parente Aguiar, sua única mulher (casados por 45 anos) e eterno amor, abençoado com três filhos nascidos na Maternidade Mãe Domingas: Adler (31/10/1978), advogado, casado com a psicóloga Divina Costa, residentes em Goiânia/GO; Thales (03/07/1980), médico, casado com a médica Márcia Figueiredo – que deu o primeiro neto João Pedro -, residentes no Rio de Janeiro/RJ; e Alexandre (12/19/1987), zootecnista, casado com a biomédica Amanda Mortoza, residentes em Araguaina/TO.
Por Jornalista José Carlos de Almeida
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