Ética, meio ambiente e nosso futuro comum
05/06/2019 12h03
A ética resumidamente pode ser caracterizada pelo conjunto de valores e princípios que norteiam a conduta humana e propiciam o equilíbrio e bom funcionamento da sociedade, contudo, é notadamente desconhecida por muitos.
A adversidade nas relações sociais, nos diferentes âmbitos, por muitas vezes, traz à tona características terríveis das pessoas que produzem comportamentos imorais e antiéticos, geralmente com a desculpa de que era necessário para resolver um problema. Não obstante, é importante reiterar que os fins não justificam os meios.
Também cabe destacar que a expressão humana nas mídias sociais é algo alarmante. A questão não é a política, nem o sistema, nem a ideologia, nem se é direita, esquerda, centro, mas sim a péssima qualidade humana que toma vulto entre nós. A sociedade precisa de injeção de ética. O excesso de confiança, não temer a lei e até mesmo negligenciar a consciência tornam o indivíduo insensível às relações sociais, passível de aviltar a honestidade em prol de objetivos egoístas.
Assustam ainda determinadas medidas que levam o Brasil ao retrocesso nas questões ambientais, na educação, na ciência e na tecnologia. Alguns posicionamentos no âmbito federal referentes às questões ambientais, por exemplo, fornecem de forma indubitável indícios de que as decisões não são isentas de interesses pontuais que atendem diminuta parcela da sociedade brasileira em detrimento do desenvolvimento sustentável e efetivo para a nação.
Reduzir áreas de proteção permanente e comprometer pequenos produtores e a agricultura orgânica, para beneficiar diretamente a produção em larga escala, e atender a interesses do mercado globalizado; permitir o uso de agrotóxicos de alto poder de toxicidade; revogar decreto que estabelece Unidade de Conservação de proteção integral para atender interesses pessoais; e permitir implantação indústrias com a justificativa que irá gerar trabalho e renda, em detrimento de questões ambientais e socioculturais são questões éticas que muitos não querem enxergar.
Estabelecer que questões ambientais atrapalham o desenvolvimento com a desculpa de que são burocráticas é pedir para o Brasil retroceder, pelo menos, uns 50 anos na história ambiental. Vamos voltar às décadas de 1960 e 1970 quando o Brasil serviu de arcabouço para a adoção de medidas e tecnologias inadequadas que suscitaram os nocivos passivos ambientais que conhecemos no presente.
Esse é o futuro? Desenvolvimento a qualquer custo, menos qualidade de vida, mais poluição, menor biodiversidade? Retrocesso. Os casos de Mariana e Brumadinho mostraram o resultado de negligência e, ainda, na contramão, coloca em risco uma cadeia profissional que envolve engenheiros ambientais, biólogos, geólogos, químicos, geógrafos, sociólogos, entre muitos outros profissionais, cujo direcionamento de formação foi alicerçado para o crescimento e desenvolvimento sustentável.
As questões ambientais devem compor os valores da sociedade e não servir a interesses de poucos. Enquanto a educação não se tornar a base de sustentação, viveremos no campo da hipocrisia. Isso é uma questão de ética. Isso delineará nosso futuro comum.
* Murilo Valle, mestre e doutor em Geologia, é professor nos cursos de Engenharia Ambiental, Biologia e Economia da Fundação Santo André
A adversidade nas relações sociais, nos diferentes âmbitos, por muitas vezes, traz à tona características terríveis das pessoas que produzem comportamentos imorais e antiéticos, geralmente com a desculpa de que era necessário para resolver um problema. Não obstante, é importante reiterar que os fins não justificam os meios.
Também cabe destacar que a expressão humana nas mídias sociais é algo alarmante. A questão não é a política, nem o sistema, nem a ideologia, nem se é direita, esquerda, centro, mas sim a péssima qualidade humana que toma vulto entre nós. A sociedade precisa de injeção de ética. O excesso de confiança, não temer a lei e até mesmo negligenciar a consciência tornam o indivíduo insensível às relações sociais, passível de aviltar a honestidade em prol de objetivos egoístas.
Assustam ainda determinadas medidas que levam o Brasil ao retrocesso nas questões ambientais, na educação, na ciência e na tecnologia. Alguns posicionamentos no âmbito federal referentes às questões ambientais, por exemplo, fornecem de forma indubitável indícios de que as decisões não são isentas de interesses pontuais que atendem diminuta parcela da sociedade brasileira em detrimento do desenvolvimento sustentável e efetivo para a nação.
Reduzir áreas de proteção permanente e comprometer pequenos produtores e a agricultura orgânica, para beneficiar diretamente a produção em larga escala, e atender a interesses do mercado globalizado; permitir o uso de agrotóxicos de alto poder de toxicidade; revogar decreto que estabelece Unidade de Conservação de proteção integral para atender interesses pessoais; e permitir implantação indústrias com a justificativa que irá gerar trabalho e renda, em detrimento de questões ambientais e socioculturais são questões éticas que muitos não querem enxergar.
Estabelecer que questões ambientais atrapalham o desenvolvimento com a desculpa de que são burocráticas é pedir para o Brasil retroceder, pelo menos, uns 50 anos na história ambiental. Vamos voltar às décadas de 1960 e 1970 quando o Brasil serviu de arcabouço para a adoção de medidas e tecnologias inadequadas que suscitaram os nocivos passivos ambientais que conhecemos no presente.
Esse é o futuro? Desenvolvimento a qualquer custo, menos qualidade de vida, mais poluição, menor biodiversidade? Retrocesso. Os casos de Mariana e Brumadinho mostraram o resultado de negligência e, ainda, na contramão, coloca em risco uma cadeia profissional que envolve engenheiros ambientais, biólogos, geólogos, químicos, geógrafos, sociólogos, entre muitos outros profissionais, cujo direcionamento de formação foi alicerçado para o crescimento e desenvolvimento sustentável.
As questões ambientais devem compor os valores da sociedade e não servir a interesses de poucos. Enquanto a educação não se tornar a base de sustentação, viveremos no campo da hipocrisia. Isso é uma questão de ética. Isso delineará nosso futuro comum.
* Murilo Valle, mestre e doutor em Geologia, é professor nos cursos de Engenharia Ambiental, Biologia e Economia da Fundação Santo André
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