MIRACEMA/ Terra prometida que ressurge das cinzas
24/08/2024 18h35
O município de Miracema do Tocantins, primeira capital do Estado, completa neste domingo, dia 25 de agosto, 76 anos de emancipação politica. A história da ex-pacata cidade de Miracema do Norte foi fundada há 102 anos (1922) pelo agricultor Pedro Praxedes e desmembrada de Santa Maria do Araguaia, numa saga wollyoodiana. VEJA A HISTÓRIA
HISTÓRIA DE MIRACEMA
Tudo começou quando, no inicio da década de 20, alguns negociantes sertanejos navegavam rio Tocantins acima, vindos do Norte e Nordeste, em barcaças carregadas de produtos como sal, couro e miudezas para serem vendidos ou trocados na região.
O local onde hoje é o Ponto de Apoio (Praça Pedro Praxedes), foi transformado por eles em entreposto comercial, logo dando lugar a um povoado onde os não índios passaram a conviver com os indígenas Xerente que habitavam as duas margens do rio Tocantins e toda a região até Porto Nacional.
Residindo em Tereza Cristina, nome dado em homenagem a então Imperatriz do Brasil, esposa de D. Pedro II, sendo mais tarde substituído por Piabanha, (hoje Tocantínia), o agricultou Pedro Praxedes mudou-se com a esposa Ana de Abreu Praxedes e os três filhos (Manoel, Teodoro e Joana Praxedes) em julho de 1.922 para a margem esquerda do rio Tocantins, firmando moradia no local hoje conhecido por Ponto de Apoio, onde cultivou um canavial e construiu um engenho para processar derivados da cana de açúcar.
Em agosto daquele ano ergueu um cruzeiro de madeira de lei no local onde hoje tem seu nome (Praça Pedro Praxedes e seu busto edificados no alto da beira rio (Ponto de Apoio). Dia 21 de agosto de 1,922, a pedido do fundador, Frei José de Madri celebrou a Primeira Missa, acompanhado pelos sacristãos Odilon e Laudemiro da igreja de Porto Nacional.
A partir daí outros povoados foram sendo formados, principalmente devido a procura pelos garimpos de Piaus e Monte Santo, como os povoados de Correntinho (o primeiro bairro de Miracema) e Lageadinho.
O primeiro nome da localidade ‘Bela Vista’ teria sido denominado por Pedro Praxedes, após deslumbrar-se com a beleza do lugar, confirmou ao MIRA Jornal seu neto, o advogado Ney Luz Praxedes, falecido no período pandêmico do corona vírus. O fundador de Miracema nasceu dia 29 de outubro de 1.880 em Boa Vista, hoje Tocantinópolis e faleceu aos 76 anos em 7 de outubro de 1.956 na cidade que fundou e foi sepultado.
Primeiras sedes do Fórum, Prefeitura e Câmara Municipal de Miracema
Com a junção dos povoados Bela Vista passou a ser distrito de Santa Maria do Araguaia (hoje Araguacema). Já nos anos 40, o saudoso Américo Vasconcelos, em homenagem aos indígenas (Xerente) da região, batizou o distrito com o nome de Miracema, substantivo feminino que significa ‘Migração dos Povos’.
Conta a lenda que ‘Seu’ Américo, sentado no barranco que hoje é o Ponto de Apoio, contemplava as águas do rio Tocantins, daí o simbolismo, ‘Olhando (mirando) as águas’. ‘Seu' Américo vislumbrava o “Nascer de uma criança”, conforme traduz o ‘Dicionário de Nomes Próprios’, embora Miracema em tupi-guarani signifique literalmente: ¨pau que sai (brota) ¨. (mirá ‘ibirá’ + cema).
Como o então governo Getúlio Vargas proibia a duplicidade de nomes, um fatídico decreto de dezembro de 1943, denominava o distrito com a toponímia de Cherente (com ch), que prevaleceu até 25 de agosto de 1948, quando João Reis, Américo Vasconcelos, Zacarias Rocha, Elias Bozaipo e Delfino Araújo, foram buscar em Goiânia uma legenda com o então senador Domingos Velásquez, para disputar as eleições, já que o PSD e a UDN estavam nas mãos de um casal em Santa Maria do Araguaia.
Conforme conta em seu livro 'Retalhos de um passado', o escritor e historiador Américo Vasconcelos, contra tudo e quase todos do então extenso município de Couto Magalhães, João Reis foi eleito prefeito e os amigos elegeram-se vereadores, quando em clima festivo dos habitantes daqui, seguiram sobre lombos de burros por aproximadamente 200 km, até a sede do município para cerimônia de posse, em Santa Maria do Araguaia, hoje Araguacema.
O primeiro ato da nova legislatura foi a Resolução Nº 1, de autoria do vereador Delfino Araújo, que desmembrava o distrito, criando assim o município de Miracema do Norte, devidamente sancionada pelo prefeito João Reis.
Em 25 de agosto de 1948, a Lei Nº 120, sancionada pelo então governador de Goiás, Jerônimo Coimbra Bueno, criava o município de Miracema do Norte, cuja instalação ocorreu dia 1º de janeiro de 1949, sendo nomeado o prefeito Nereu Gonzalez Vasconcelos, sucedido pelo primeiro prefeito eleito, Eurípedes Pereira Coelho, em 29 de maio de 1949.
Por quase quatro décadas viveu sob o estigma de ‘Pacata cidade de Miracema do Norte’, cruelmente esquecida pelo governo estadual da época quando o abandono por estar no norte goiano a fez parar no tempo e no espaço.
Primeira sede da Assembleia Legislativa do Tocantins, atual sede da Câmara Municipal
A exemplo da lenda do pássaro Fênix, que ressurgiu das cinzas, a saga de Miracema estava apena começando:
foi invadida pelas águas do rio Tocantins, em 1980, quando ressurgiu (das águas), e depois foi cantada pela Banda Blitz na composição de Evandro Mesquita “A Dois Passos do Paraíso”;
serviu de útero e berço para o nascimento do Estado do Tocantins, quando foi primeira capital (1º de janeiro a 31 de dezembro de 1.988), embora em caráter provisório, mas em apenas um ano deixou de ser capital e foi atirada num caos social;
deu vida à UNITINS (Universidade do Estado do Tocantins, que fez surgir a UFT (Universidade Federal do Tocantins);
foi em sede da regional e de uma subestação da Eletronorte, após ter em seu território a construção da primeira Usina Hidrelétrica privatizada do país, mas logo perdeu a sede da estatal e lhe foram subtraídos 50% do ICMS arrecadado da Usina, percentual que também se estingue em 2025;
teve realizado o sonho da construção de uma ponte sobre o rio Tocantins, porém fora da zona urbana do município.
Miracema ainda perdeu a seccional do IBGE, da Receita Federal, e engoliu os desatinos herdados de duas ONGs que consumiram suor e sangue da administração municipal;
e por fim teve um prefeito assassinado em pleno exercício do mandato - crime até então não desvendado.
Neste dia 25 de agosto, com 102 anos de história e completando 76 anos de emancipação política, Miracema do Tocantins traz na pele marcas e cicatrizes e na alma o desejo do reconhecimento de que foi gestante e mãe de um filho para o país cuidar, deixando o alerta de que ‘Só merece cuidado quem saber cuidar’.
MIRA Jornal
HISTÓRIA DE MIRACEMA
Tudo começou quando, no inicio da década de 20, alguns negociantes sertanejos navegavam rio Tocantins acima, vindos do Norte e Nordeste, em barcaças carregadas de produtos como sal, couro e miudezas para serem vendidos ou trocados na região.
O local onde hoje é o Ponto de Apoio (Praça Pedro Praxedes), foi transformado por eles em entreposto comercial, logo dando lugar a um povoado onde os não índios passaram a conviver com os indígenas Xerente que habitavam as duas margens do rio Tocantins e toda a região até Porto Nacional.
Residindo em Tereza Cristina, nome dado em homenagem a então Imperatriz do Brasil, esposa de D. Pedro II, sendo mais tarde substituído por Piabanha, (hoje Tocantínia), o agricultou Pedro Praxedes mudou-se com a esposa Ana de Abreu Praxedes e os três filhos (Manoel, Teodoro e Joana Praxedes) em julho de 1.922 para a margem esquerda do rio Tocantins, firmando moradia no local hoje conhecido por Ponto de Apoio, onde cultivou um canavial e construiu um engenho para processar derivados da cana de açúcar.
Em agosto daquele ano ergueu um cruzeiro de madeira de lei no local onde hoje tem seu nome (Praça Pedro Praxedes e seu busto edificados no alto da beira rio (Ponto de Apoio). Dia 21 de agosto de 1,922, a pedido do fundador, Frei José de Madri celebrou a Primeira Missa, acompanhado pelos sacristãos Odilon e Laudemiro da igreja de Porto Nacional.
A partir daí outros povoados foram sendo formados, principalmente devido a procura pelos garimpos de Piaus e Monte Santo, como os povoados de Correntinho (o primeiro bairro de Miracema) e Lageadinho.
O primeiro nome da localidade ‘Bela Vista’ teria sido denominado por Pedro Praxedes, após deslumbrar-se com a beleza do lugar, confirmou ao MIRA Jornal seu neto, o advogado Ney Luz Praxedes, falecido no período pandêmico do corona vírus. O fundador de Miracema nasceu dia 29 de outubro de 1.880 em Boa Vista, hoje Tocantinópolis e faleceu aos 76 anos em 7 de outubro de 1.956 na cidade que fundou e foi sepultado.
Primeiras sedes do Fórum, Prefeitura e Câmara Municipal de Miracema
Com a junção dos povoados Bela Vista passou a ser distrito de Santa Maria do Araguaia (hoje Araguacema). Já nos anos 40, o saudoso Américo Vasconcelos, em homenagem aos indígenas (Xerente) da região, batizou o distrito com o nome de Miracema, substantivo feminino que significa ‘Migração dos Povos’.
Conta a lenda que ‘Seu’ Américo, sentado no barranco que hoje é o Ponto de Apoio, contemplava as águas do rio Tocantins, daí o simbolismo, ‘Olhando (mirando) as águas’. ‘Seu' Américo vislumbrava o “Nascer de uma criança”, conforme traduz o ‘Dicionário de Nomes Próprios’, embora Miracema em tupi-guarani signifique literalmente: ¨pau que sai (brota) ¨. (mirá ‘ibirá’ + cema).
Como o então governo Getúlio Vargas proibia a duplicidade de nomes, um fatídico decreto de dezembro de 1943, denominava o distrito com a toponímia de Cherente (com ch), que prevaleceu até 25 de agosto de 1948, quando João Reis, Américo Vasconcelos, Zacarias Rocha, Elias Bozaipo e Delfino Araújo, foram buscar em Goiânia uma legenda com o então senador Domingos Velásquez, para disputar as eleições, já que o PSD e a UDN estavam nas mãos de um casal em Santa Maria do Araguaia.
Conforme conta em seu livro 'Retalhos de um passado', o escritor e historiador Américo Vasconcelos, contra tudo e quase todos do então extenso município de Couto Magalhães, João Reis foi eleito prefeito e os amigos elegeram-se vereadores, quando em clima festivo dos habitantes daqui, seguiram sobre lombos de burros por aproximadamente 200 km, até a sede do município para cerimônia de posse, em Santa Maria do Araguaia, hoje Araguacema.
O primeiro ato da nova legislatura foi a Resolução Nº 1, de autoria do vereador Delfino Araújo, que desmembrava o distrito, criando assim o município de Miracema do Norte, devidamente sancionada pelo prefeito João Reis.
Em 25 de agosto de 1948, a Lei Nº 120, sancionada pelo então governador de Goiás, Jerônimo Coimbra Bueno, criava o município de Miracema do Norte, cuja instalação ocorreu dia 1º de janeiro de 1949, sendo nomeado o prefeito Nereu Gonzalez Vasconcelos, sucedido pelo primeiro prefeito eleito, Eurípedes Pereira Coelho, em 29 de maio de 1949.
Por quase quatro décadas viveu sob o estigma de ‘Pacata cidade de Miracema do Norte’, cruelmente esquecida pelo governo estadual da época quando o abandono por estar no norte goiano a fez parar no tempo e no espaço.
Primeira sede da Assembleia Legislativa do Tocantins, atual sede da Câmara Municipal
A exemplo da lenda do pássaro Fênix, que ressurgiu das cinzas, a saga de Miracema estava apena começando:
foi invadida pelas águas do rio Tocantins, em 1980, quando ressurgiu (das águas), e depois foi cantada pela Banda Blitz na composição de Evandro Mesquita “A Dois Passos do Paraíso”;
serviu de útero e berço para o nascimento do Estado do Tocantins, quando foi primeira capital (1º de janeiro a 31 de dezembro de 1.988), embora em caráter provisório, mas em apenas um ano deixou de ser capital e foi atirada num caos social;
deu vida à UNITINS (Universidade do Estado do Tocantins, que fez surgir a UFT (Universidade Federal do Tocantins);
foi em sede da regional e de uma subestação da Eletronorte, após ter em seu território a construção da primeira Usina Hidrelétrica privatizada do país, mas logo perdeu a sede da estatal e lhe foram subtraídos 50% do ICMS arrecadado da Usina, percentual que também se estingue em 2025;
teve realizado o sonho da construção de uma ponte sobre o rio Tocantins, porém fora da zona urbana do município.
Miracema ainda perdeu a seccional do IBGE, da Receita Federal, e engoliu os desatinos herdados de duas ONGs que consumiram suor e sangue da administração municipal;
e por fim teve um prefeito assassinado em pleno exercício do mandato - crime até então não desvendado.
Neste dia 25 de agosto, com 102 anos de história e completando 76 anos de emancipação política, Miracema do Tocantins traz na pele marcas e cicatrizes e na alma o desejo do reconhecimento de que foi gestante e mãe de um filho para o país cuidar, deixando o alerta de que ‘Só merece cuidado quem saber cuidar’.
MIRA Jornal
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